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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Uma questão de química

Com tantos tipos de açúcar disponíveis, o consumidor deve se perguntar qual afinal é o mais indicado e o menos prejudicial à saúde. Do ponto de vista calórico, especialistas dizem que a diferença é ínfima. Até mesmo os adoçantes favorecem o aumento de peso quando usados além da conta. O diferencial está muito mais associado ao processo pelo qual cada um passa antes de chegar à mesa. A regra é simples, quanto mais industrializado, pior. Os açúcares considerados naturais (frutose, mascavo, demerara, orgânico) pelo menos preservam as vitaminas e minerais. Já o refinado, perde todos os seus nutrientes durante a fabricação. Aliás, ainda conta com a adição de produtos químicos, entre eles o enxofre (acrescentado durante a etapa de clarificação do melado de cana, que é bem escuro). Acima dos limites toleráveis, essa substância pode ocasionar reações alérgicas e dores de cabeça nos consumidores.

Como adoçar o cardápio


A Associação Americana de Diabetes provocou polêmica quando liberou para diabéticos o consumo, ainda que moderado, de guloseimas. Um privilégio apenas permitido àqueles que seguem o tratamento à risca e não são obesos. Segundo o médico Marcos Tambascia não é o açúcar em si que desencadeia o diabetes, mas a obesidade e o consumo exagerado de carboidratos que, uma vez ingeridos, são convertidos em glicose. Desde 2002, circula um livreto, distribuído pelo Centro de Diabetes de Curitiba, que ensina a contar essas substâncias. Funciona assim: o paciente deve contrabalançar a quantidade diária de carboidratos recomendada (60 gramas em cada refeição principal e de 15 a 30 gramas nos lanches). Para saborear um brigadeiro é preciso deixar de ingerir duas batatas. Para todos os mortais, a orientação geral é ter bom senso, incluindo na dieta as fibras das frutas e verduras (que ajudam a baixar a glicose no sangue) e de carboidratos complexos (arroz, vegetais e cereais, que demoram para virar açúcar no sangue, dando chance ao corpo de absorvê-los antes que se acumulem). Nessa tarefa, aliás, as atividades físicas também são fundamentais.

O problema maior, porém, não é o açúcar em si, nem o tipo consumido. Mas a quantidade. Afinal, toda a vez que ele é ingerido, o organismo interpreta como sendo a entrada de mais um carboidrato (ou hidrato de carbono). Este composto orgânico é essencial para manter o corpo funcionando. Ao serem absorvidos, os açúcares são convertidos em glicose, que é a menor partícula glicídica dos carboidratos e cuja função é liberar energia essencial ao trabalho celular. Porém, se os hidratos de carbono são consumidos demais, gerando combustível acima da necessidade basal energética - ou seja, entre 70 e 110 mg de glicose por decilitro (dL) de sangue - automaticamente é acionado um sistema de regulagem: o pâncreas começa a produzir insulina e a lançá-la na circulação sangüínea para tentar reduzir a elevação do açúcar ao nível normal. "A insulina não queima a glicose como muita gente pensa. Este hormônio transforma o excesso em reserva de gordura sob a pele, nas fibras musculares, nos órgãos e vasos sangüíneos", diz a nutróloga Valéria Goulart.

Paladar doce, digestão amarga

O aumento de peso, portanto, é uma das primeiras conseqüências de um desequilíbrio na quantidade de açúcar na alimentação. O risco de desenvolver um diabetes vem depois. "O excesso de tecido adiposo leva ao aumento da produção de certas substâncias que têm a capacidade de interferir no mecanismo de ação da insulina. Este quadro, por sua vez, ocasiona uma ineficiência da atuação da insulina e, conseqüentemente, o aumento dos níveis de glicose no sangue. Pessoas que apresentam níveis maiores do que 100 mg/dL (abaixo do limite considerado máximo) e menores que 126 mg/dL (limite inferior para o diagnóstico de diabetes) ou pessoas que ao se submeterem ao teste oral de tolerância à glicose apresentarem índices maiores do que 200mg/dL no tempo de duas horas após a ingestão de 75g de glicose por via oral já fazem parte do grupo considerado pré-diabético", explica e alerta o médico Marcos Tambascia, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes.

Alguns especialistas também sugerem que anos de produção excessiva de insulina (estimulada pelo organismo para tentar conter o excesso de açúcar no sangue), possa desgastar irreversivelmente o pâncreas e este começar a produzir menos insulina, predispondo o consumidor à maior chance de tornar-se diabético.

Mas não é só. Estudos publicados afirmam que os estragos proporcionados pelo abuso das substâncias cujos nomes terminam em 'ose' vão além de males compreendidos pelo senso comum. Há autores que afirmam que uma colher de chá de açúcar refinado, por exemplo, é capaz de roubar minerais do organismo durante mais de três horas seguidas, entre elas a vitamina B (o que pode provocar a descalcificação dos ossos e, mais tarde, a osteoporose).

O açúcar também é alimento predileto de bactérias presentes na cavidade bucal, o que favorece à formação de cáries. "É comum ainda vermos hoje em dia um número assustador de crianças com problemas digestivos, como azia, formação de gases e diarréia, devido ao consumo inadequado de açúcares", revela a nutróloga Valéria.

De fácil absorção, ele é um enganador da fome, porque proporciona a sensação de que estamos saciados, estimulando a pessoa a reduzir a ingestão de outros nutrientes necessários ao bom funcionamento do organismo. O açúcar também aumentaria a produção de estrogênio - o que nas mulheres pode levar, entre outros problemas, ao aumento do risco para o câncer de mama. Já nos homens, a elevação do hormônio está entre as causas da diminuição da potência sexual. Em 2003, pesquisadores da Universidade de Nova York chegaram inclusive a associar os altos níveis de glicose no sangue (não necessariamente diabéticos) com o enfraquecimento da memória. Entre os voluntários, aqueles com glicemia alterada demonstravam diminuição da área do hipocampo (parte do cérebro fundamental para o aprendizado e a formação de memória recente).