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sábado, 7 de maio de 2011

Vocabulário da saúde


Alimento funcional

Também conhecido como "nutracêuticos", agem diretamente sobre funções do organismo e, por isso, previnem doenças degenerativas, crônicas, cardiovasculares (infarto e derrame) e câncer. O tomate, por exemplo, é um desses alimentos. Devido à ação do licopeno, pode oferecer uma proteção contra o câncer de próstata. Porém, é importante lembrar que, para ter uma atuação benéfica no organismo, a cultura deve ser produzida organicamente.

Natural

Alimentos que provêm de fontes originais da natureza, são alimentos que não foram produzidos em laboratórios, não possuem sabores e corantes artificiais de frutas, verduras, leite e outros químicos. Entretanto, são normalmente produzidos com agrotóxicos. Portanto, não é a mesma coisa que orgânico.

Orgânico

São produzidos naturalmente sem a utilização de insumos químicos modernos. Estes produtos não têm os chamados venenos com química artificial, adubos com alta solubilidade, sementes transgênicas e radiações ionizantes.

Integral

São alimentos que mantêm, ao serem consumidos, todos os seus integrantes nutricionais básicos. Exemplo: farinha de trigo integral gerará um produto com a totalidade dos ingredientes básicos para um pão nutritivo. Entretanto, normalmente o trigo utilizado é produzido no sistema convencional;

Diet

São alimentos que foram modificados para atender uma determinada finalidade, sem açúcar para o diabético ou sem gordura para os que necessitam de uma baixa ingestão de gorduras, sem sal para hipertensos. Esse tipo de alimento não tem necessidade de ter uma redução calórica. Por esse motivo, se um alimento contiver uma quantidade de açúcar, sódio, colesterol, aminoácidos ou proteínas abaixo do limite estabelecido em legislação, ele pode ser classificado comercialmente como diet. Basta apenas 1 destes componentes estar abaixo do limite. Sendo assim, um alimento que não contém açúcar, mas que apresenta uma grande quantidade de gorduras, é considerado diet, mesmo tendo uma quantidade de calorias semelhante ao seu similar não diet (em função da grande quantidade de gorduras). Normalmente, é um alimento produzido pelo sistema convencional.

Light

São todos os alimentos que foram abrandados ou diminuídos em um ou mais de seus nutrientes e têm uma redução calórica. Alimento light tem sempre uma redução de no mínimo 25% no valor calórico em relação ao seu similar.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Por que os alimentos orgânicos são mais caros?


O preço dos alimentos orgânicos pode ser considerado como um dos entraves para um rápido desenvolvimento da produção orgânica no Brasil. Além disso, é um ponto bastante polêmico quando pensamos em um sistema sustentável que atenda os requisitos de igualdade na distribuição de alimentos de maior valor biológico para maioria da população. Neste sentido, este artigo faz uma análise tentando mostrar que o relativo aumento de preço dos produtos orgânicos está ligado a um conjunto de fatores que podem ser equacionados no médio prazo, levando a uma diminuição da diferença de preços entre orgânicos e convencionais.
Um trabalho realizado na Europa por SYLVANDER (1998), mostrou que a diferença de preços entre orgânicos e convencionais vem baixando. Em 1986, os alimentos orgânicos eram entre 35 e 50% mais caros que os similares convencionais, já em 1997 esta diferença baixou para cerca de 30%. Para LAMPKIN & PADEL (1994) os preços mais elevados dos produtos orgânicos são essenciais para que o produtor orgânico consiga uma renda final similar aos produtores convencionais.
No Brasil, no estágio atual da agricultura orgânica, o que viabiliza economicamente os sistemas orgânicos é o preço obtido na venda dos produtos em mercados diferenciados. Segundo CARMO & MAGALHÃES (1999), a agricultura orgânica tem se apresentado muito mais como uma eficiência de mercado do que uma eficiência técnica (volumes, diversidade e constância de produção).
Para entendermos a questão do preço procuramos acompanhar o processo desde a produção até a comercialização. A figura 1, mostra que o preço final ao consumidor costuma variar conforme o local de compra e o tipo de produto adquirido. Por exemplo, quando a venda é realizada de forma direta, como no caso das feiras verdes, não existe grande diferença entre o preço do produto orgânico e do convencional, sobretudo quando se trata de hortaliças de folhas. Esse fato foi confirmado por uma pesquisa de opinião pública que realizamos, comparando diversos aspectos entre as feiras do município de Curitiba, entre eles os preços. Os resultados mostraram que os consumidores avaliaram como "bom" o preço da feira orgânica, com respostas semelhantes para a feira convencional. Já nas redes de supermercados, os preços são em média 30% mais caros, podendo chegar a diferenças superiores a 100%, em produtos como o tomate e a batata.
FIGURA 1 - CANAIS E MARGENS DE COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS ORGÂNICOS
figura
FONTE: DAROLT (2000)

NOTA: Para análise das percentagens médias recebidas pelo agricultor, associação/empresa e supermercados, foram avaliados cerca de 40 produtos orgânicos.
(1)Percentagem média recebida do valor final pago pelo consumidor.
(2)Valor percentual adicionado ao preço do produto recebido, para cobrir os custos de comercialização e retirar a margem de lucro.
Acompanhando cerca de 40 produtos orgânicos, comercializados basicamente via supermercado, observamos que do valor total (100%) deixado no caixa pelo consumidor, em média 30% são destinados ao agricultor, 33 % são para cobrir os custos dos distribuidores com classificação, embalagem, transporte e pessoal, e o restante (37%) corresponde à margem dos supermercados. Cabe destacar que os descartes dos supermercados são assumidos integralmente pelos distribuidores (associações e empresas), o que aumenta a margem dos supermercados e encarece demasiadamente o produto final para o consumidor.
O que chama atenção é que para comercializar via supermercado existe a necessidade de diferenciar os alimentos orgânicos dos convencionais e isso é feito por meio de uma embalagem especial. Em nossa pesquisa observamos que a embalagem custava R$ 0,07 e a mão-de-obra R$ 0,08, fator que encarecia o produto em R$ 0,15/ unidade embalada. Segundo nossa pesquisa (DAROLT, 2000) este preço deveria baixar para algo em torno de R$ 0,05/embalagem, porém isto depende do aumento de escala de produção.
(OBSV:A embalagem é de isopor coberta por um filme plástico, o que gera certa contradição quando se trata de um alimento produzido de forma "ecologicamente correta". Apesar de alguns estudos para o desenvolvimento de bandejas à base de amido de mandioca, ainda não há no mercado uma embalagem que substitua a bandeja de isopor em eficiência e preço).
A baixa escala de produção orgânica, implica maiores custos (mão-de-obra; insumos) por unidade de produto, o que se reflete no relativo aumento de preços. As estratégias devem ser direcionadas no sentido de atingir um ponto de equilíbrio e estabelecer uma escala de produção que possibilite reduzir os custos e aumentar o valor pago ao agricultor.
Além dos baixos volumes constatamos que a produção orgânica tem uma queda mais acentuada nos meses de inverno. Os problemas relacionados com a sazonalidade de produção nos meses de inverno, sobretudo no Sul e Sudeste do Brasil, podem causar diminuição de até 50% no faturamento das empresas e, conseqüente, aumento do preço final do produto.
Por ser um sistema novo, ainda há uma desorganização do sistema de produção (falta de planejamento) e do processo de comercialização. A descontinuidade de produção é reflexo da falta de um bom planejamento que possibilite facilitar a tomada de decisão no momento da comercialização. A dificuldade de seguir um planejamento de produção está relacionada a um conjunto de fatores como a falta de organização dos pequenos agricultores (responsáveis por 70% da produção orgânica nacional), a falta de treinamento na área gerencial, a falta de estrutura para lidar com o clima e o desconhecimento técnico-agronômico. Além disso, a logística e distribuição também são dificuldades a serem superadas. Portanto, estes pontos devem ser equacionados para se atingir um bom planejamento de produção, que permita diminuir o preço final do produto.
Outro ponto que encarece o produto final é a falta ou o pequeno número de pesquisas na área orgânica. Essa situação faz com que o agricultor tenha que fazer seus próprios experimentos, aumentando os riscos de perdas na produção.
Por último, os preços são maiores devido a custos extras com o processo de certificação e perdas econômicas durante o processo de conversão que são internalizados pelo produtor.
Para sintetizar a questão do preço, podemos dizer que o aumento relativo dos alimentos orgânicos está relacionado ao local de compra, tipo de produto e outros fatores relacionados ao processo de produção. O mais geral é a baixa escala de produção orgânica, o que implica maiores custos (mão-de-obra; insumos) por unidade de produto. Além disso, temos o problema do custo da embalagem para diferenciar produto orgânico do convencional, sobretudo em supermercados. Em seguida, há uma desorganização do sistema de produção (falta de planejamento) e do processo de comercialização. Depois, em função da falta de pesquisa, existem maiores riscos e a necessidade de experimentação do agricultor. Por último, os preços são maiores devido a custos adicionais com o processo de certificação e perdas econômicas durante o processo de conversão.
No estágio inicial em que se encontra a produção orgânica, o preço diferenciado muitas vezes compensa os rendimentos inferiores e o custo da mão-de-obra, contribuindo para que o produtor orgânico obtenha margens brutas por hectare e rendas idênticas aos produtores convencionais.
Entretanto, vale lembrar que o sistema só será sustentável se os preços forem competitivos com o sistema convencional, apesar de os consumidores ainda estarem dispostos a pagar até 30% a mais por um produto orgânico. Todavia, a tendência é que haja uma redução de preços para o futuro, o que seria importante para que a maioria da população tenha acesso a produtos "limpos", pois a eqüidade é uma característica fundamental quando pensamos na sustentabilidade.
É fundamental reforçar que a concorrência econômica entre o sistema orgânico e o convencional é injusta, pois a agricultura convencional exclui dos cálculos da formação de preço a contabilidade ambiental, exteriorizando os impactos ambientais, ao passo que a agricultura orgânica interioriza esses custos. Além disso, o produtor orgânico sofre uma pressão enorme de todo sistema agrícola que é guiado pela lógica convencional.
Finalmente, para que os preços dos alimentos orgânicos sejam competitivos, é fundamental que os diferentes "nós da rede" envolvidos com a produção orgânica, comecem a conversar. Com isso queremos dizer que os produtores, transformadores, processadores, distribuidores e consumidores, devem formar uma rede de interesses comuns no intuito de atender as necessidades de cada ator e desenvolver uma filosofia de agricultura orgânica coerente com os preceitos da sustentabilidade.

Referências

CARMO, M. S. do; MAGALHÃES, M.M. de. Agricultura sustentável: avaliação da eficiência técnica e econômica de atividades agropecuárias selecionadas no sistema não convencional de produção. Informações Econômicas, São Paulo: IEA, v. 29, n. 7, p. 7-98, jul. 1999.
DAROLT, M.R. As Dimensões da Sustentabilidade: Um estudo da agricultura orgânica na região metropolitana de Curitiba-PR. Curitiba, 2000. Tese de Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento, Universidade Federal do Paraná/ParisVII. 310 p.
LAMPKIN, N.H. & PADEL, S (ed.). The Economics of Organic Farming: an international perspective. Wallingford, UK: Cab International. 468 p. 1994.
SYLVANDER, B. Le marché des produits biologiques et la demande. INRA-UREQUA, Le Mans, 27 p. 1998.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Quem é o consumidor orgânico?

• Profissional Liberal e/ou Funcionário Público
• 66% sexo feminino 
• Casado com dois filhos (família pequena)
• Usuário de internet
• Idade (31 a 50 anos) - 62% dos entrevistados
• Nível de instrução elevado (58% com terceiro grau)
• 55% hábito de praticar esportes 
• Estilo de vida: contato com natureza - 63% freqüentam bosques e parques
• Consumidor fiel: 58% freqüentam semanalmente a feira orgânica
• Bom nível de renda familiar (68% das famílias com renda superior a 9 Salários Mínimos)
• Hábito alimentar: pessoas não são necessariamente vegetarianas. A maioria come carne, porém em quantidades menores 
• Saúde: comum o uso de terapias alternativas (fitoterapia, homeopatia, acupuntura, etc). 

quarta-feira, 4 de maio de 2011

O papel do consumidor no mercado de produtos orgânicos



É cada vez maior o número de pessoas que estão buscando uma alimentação mais saudável, na tentativa de resgatar um tempo que ainda era possível ter à mesa alimentos frescos, de boa qualidade biológica e livre de agrotóxicos. Atualmente, os alimentos recebem tantos produtos tóxicos e passam por uma série de processos de transformação até chegar ao consumidor que acabam provocando uma mudança de hábitos alimentares e um distanciamento entre o agricultor e o consumidor.
Baseado na experiência dos consumidores da região metropolitana de Curitiba (RMC) e na literatura internacional, este artigo discute brevemente as motivações para o consumo de produtos orgânicos, as possibilidades de haver um envolvimento maior do consumidor na cadeia produtiva orgânica e, finalmente, mostra um retrato do perfil do consumidor orgânico da RMC.

As motivações para o consumo


As motivações para o consumo variam em função do país, da cultura e dos produtos que se analisa. Todavia, observando países como Alemanha, Inglaterra, Austrália, Estados Unidos, França e Dinamarca, percebe-se que existe uma tendência de o consumidor orgânico privilegiar, em primeiro lugar, aspectos relacionados à saúde e sua ligação com os alimentos, em seguida ao meio ambiente e, por último, à questão do sabor dos alimentos orgânicos.
No Brasil, parece existir uma tendência semelhante. Uma pesquisa indiretamente ligada a essa temática, que trata da questão ambiental mais geral, foi realizada pelo IBOPE. Este estudo mostra que o consumidor brasileiro está disposto a pagar mais caro por um produto que não polui o meio ambiente. Uma faixa de 68% do universo pesquisado fez essa afirmativa, enquanto outra de 24% se mostrou contrária à idéia. Essa tendência pode ser verificada mesmo na população com baixa renda familiar.
Em Curitiba, uma pesquisa realizada nas feiras orgânicas confirma que a principal razão para o consumo de produtos orgânicos é a questão da saúde. Os resultados mostram que o consumidor associa a produção orgânica com uma agricultura sem agrotóxico (42,9%) e com um processo natural de cultivo (33,3%).
Em relação à avaliação dos produtos orgânicos quanto à qualidade, quantidade, diversidade e regularidade, os resultados mostraram que os consumidores consideram como problema em primeiro lugar a falta de regularidade, depois a pouca diversidade e, em seguida, a pouca quantidade. No que diz respeito à qualidade, não é a só a aparência que é levada em consideração. A maioria dos consumidores considera "bom" os produtos orgânicos, fator que está relacionado ao valor biológico dos produtos, além do sabor e frescor dos alimentos orgânicos. Em relação à diversidade, muitos consumidores declaram que ainda é difícil manter uma dieta orgânica pela falta de produto, sobretudo frutas, cereais e produtos de origem animal. Além disso, é necessário um esforço complementar de deslocamento para comprar os produtos que faltam.
Apesar de a maioria dos consumidores (62,7%) considerar os preços dos produtos orgânicos mais elevados em relação aos convencionais, o consumo continua crescendo. É interessante observar que, quando se faz uma comparação de preços entre consumidores de feiras convencionais e orgânicas, não existe diferença de percepção entre os preços. Já nas redes de supermercados, onde as margens de preços são extremamente altas e os produtos orgânicos necessitam ser embalados para serem diferenciados dos convencionais, os consumidores costumam reclamar dos altos preços dos produtos orgânicos.

A importância da conscientização do consumidor

Nos últimos anos, com a polêmica dos alimentos transgênicos e o mal da "vaca louca", os temas relacionados com a questão agroambiental têm obtido um maior espaço na mídia. Apesar de crescente, este espaço ainda é insuficiente para sensibilizar o consumidor sobre os problemas relacionados aos agrotóxicos e sobre os benefícios da alimentação orgânica. Apesar de os dados mostrarem que esta é uma questão de alto risco para a saúde pública, o assunto acaba não sendo objeto de preocupação popular pela falta de informação do consumidor.
Temos, portanto, uma dificuldade no que se refere à sensibilização do consumidor. Se, por um lado, existe interesse do consumidor em pagar mais (cerca de 20 a 30%) para preservar o meio ambiente, por outro lado a divulgação depende muito da grande mídia (televisão, sobretudo) que ainda não discute o assunto de forma mais ampla e continuada. Desta forma, a preocupação dos consumidores só será despertada e seus hábitos modificados, se houver um trabalho mais eficiente de divulgação.
Se nos países desenvolvidos o consumidor já é o principal elemento articulador de mudanças, no Brasil este trabalho está apenas começando. O desafio é conscientizar o consumidor sobre o problema da agricultura convencional para a saúde e meio ambiente. Além disso, é preciso mostrar que sua capacidade transformadora tem reflexos em todos os outros segmentos da economia. Por isso, o importante é que a própria sociedade tome a iniciativa de se organizar.
Em Curitiba, um grupo de consumidores da feira de alimentos orgânicos, iniciou um trabalho visando estreitar as relações entre os produtores orgânicos e os consumidores. Há cerca de um ano que este grupo de consumidores vem desenvolvendo atividades na região metropolitana de Curitiba (RMC). Uma iniciativa que tem mostrado bons resultados é a visita dos consumidores as propriedades orgânicas. Foram realizadas visitas a 8 propriedades para verificar as dificuldades dos agricultores in loco e tirar dúvidas dos consumidores em relação à forma de produção e certificação. O trabalho também tem servido como uma forma de educação ambiental, promoção do turismo rural e valorização da produção local de alimentos.
Nestes passeios, realizados aos domingos o consumidor tem a oportunidade de colher a verdura diretamente, num sistema tipo "colha-e-pague". O almoço é realizado na propriedade por um grupo de agricultores do município, funcionando como forma de confraternização entre agricultores e consumidores. Paralelamente, um Boletim Informativo está sendo elaborado para informar e orientar o consumidor sobre a produção orgânica, além de denunciar os riscos dos agrotóxicos para saúde e dicas para uma alimentação mais saudável.
Este processo de organização culminou com a fundação, em 15 de julho de 2000, da Associação dos Consumidores de Produtos Orgânicos do Paraná – ACOPA que tem como objetivo estimular e promover a aproximação entre agricultor e consumidor, elevar os padrões de qualidade alimentar, além de divulgar a importância da produção orgânica e proporcionar uma maior conscientização do consumidor. Neste sentido, a iniciativa busca a participação do consumidor no Conselho Estadual de Agricultura Orgânica do Paraná e no Colegiado da Associação de Agricultura Orgânica do Paraná (AOPA).
Esta aproximação já aponta para alguns resultados positivos. Primeiro, observamos que o consumidor tem um grande interesse em conhecer de onde vêm os produtos que está levando à mesa. Em segundo lugar, as visitas às propriedades têm servido para ampliar a conscientização do consumidor e aumentar a valorização do produto orgânico. Assim, a falta de regularidade de um produto como o tomate, por exemplo, é melhor compreendida pelo consumidor, que não vê restrições em adquirir um outro legume "da época". Além disso, trata-se de uma forma de valorizar a produção local e regional.
Outra dinâmica desencadeada a partir deste trabalho é a obtenção de um crédito alternativo para o agricultor, longe do "circuito bancário". Alguns agricultores orgânicos já estão sendo financiados pelos próprios consumidores, que adiantam uma quantia em dinheiro ao agricultor, recebendo posteriormente em produtos com um desconto especial. A ACOPA também tem mantido uma relação estreita com a AOPA no projeto "sacolas", visando criar uma rede de distribuição de sacolas com produtos orgânicos. O objetivo é criar alternativas às redes de supermercados que diminuam o custo final do alimento orgânico ao consumidor. Do lado do agricultor, existe uma série de vantagens em manter contato direto com o consumidor.
Como relata um dos agricultores de um grupo visitado, "...para nós quando o consumidor vem até a propriedade, o trabalho é menor, é mais confortável, o custo final é menor e o preço também é menor. .A gente se sente valorizado".
No Brasil, ainda não é possível ter uma idéia clara do número de consumidores que alimenta o mercado de produtos orgânicos. Além disso, existem os consumidores das redes de supermercados e outros pontos de venda, que precisam ser melhor estudados.

O perfil do consumidor orgânico

O conhecimento do perfil dos consumidores é importante pois permite orientar o trabalho de produção, direcionar o processo de marketing e comercialização, além de dar uma idéia da importância desse segmento de consumo no mercado regional.
Grosso modo, podemos dizer que existem basicamente dois tipos de consumidores orgânicos. O primeiro tipo são aqueles consumidores mais antigos, que estão motivados, bem informados e são exigentes em termos de qualidade biológica do produto. Estes consumidores são os freqüentadores das feiras verdes de produtos orgânicos. Um segundo tipo, mais recente, ainda pouco estudado, é o consumidor das grandes redes de supermercados. O perfil que iremos apresentar, em função da disponibilidade de dados, corresponde ao primeiro tipo.
Os resultados apontam que o consumidor orgânico é normalmente um profissional liberal, na maioria (66%) do sexo feminino, com idade variando entre 31 e 50 anos em 62 % dos casos. Apresentam nível de instrução elevada tendo em sua maioria cursado o ensino superior (Figura 1). Ademais, a pesquisa indica que são pessoas que têm o hábito de praticar esportes (54,9%) com freqüência e, mesmo morando na cidade, procuram um estilo de vida que privilegie o contato com a natureza, o que faz com que 62,9% freqüentem parques e bosques regularmente.
FIGURA 1 - NÍVEL PERCENTUAL MÉDIO DE ESCOLARIDADE DOS CONSUMIDORES DE PRODUTOS ORGÂNICOS DA FEIRA VERDE DE CURITIBA
figura
FONTE: RUCHINSKI & BRANDENBURG (1999)
Com base nos dados, é possível afirmar que a procura por alimentos "limpos" está associada à escolaridade, visto que existe um grande interesse desse consumidor pela questão ambiental. Além disso, a pesquisa mostrou que esses consumidores têm maiores informações e dizem conhecer os males dos agrotóxicos.
Analisando a renda familiar mensal, observamos que existe uma tendência similar ao que acontece com o nível de instrução escolar. Enquanto a maior parte dos consumidores das feiras convencionais têm renda até 10 salários mínimos, cerca de 68% dos consumidores da feira orgânica têm renda acima deste patamar (Figura 2).
Em última análise, os dados refletem que o público das feiras orgânicas, tanto em termos de escolaridade quanto de renda, faz parte de um grupo de consumidores mais intelectualizados e de uma classe economicamente mais elevada.
Além do perfil socioeconômico observado, foi possível confirmar que o consumidor orgânico é fiel e constante. A grande maioria se diz adepto da alimentação orgânica, sendo que 58,8% dos consumidores freqüentam semanalmente a feira verde. Esses resultados mostram que a feira verde de produtos orgânicos tem tido êxito em cativar o público e, portanto, configura-se como um espaço privilegiado de educação e articulação dos consumidores.
FIGURA 2 - NÍVEL PERCENTUAL MÉDIO PARA A RENDA INDIVIDUAL DOS CONSUMIDORES DE PRODUTOS ORGÂNICOS DA FEIRA VERDE DE CURITIBA
figura
FONTE: RUCHINSKI & BRANDENBURG (1999)
Para finalizar, é importante destacar que o desafio de levar o alimento orgânico para as outras camadas da população, não está relacionado apenas aos aspectos técnicos (produção em quantidade, qualidade, regularidade e diversidade) e econômicos (preços competitivos aos produtos convencionais), mas também aos aspectos políticos e sociais.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Estudo de Mercado para Produtos Orgânicos através de Análise Fatorial


Nos últimos anos, com o consumo crescente de alimentos mais naturais, têm surgido questionamentos sobre a competitividade de produtos orgânicos em relação a outras fontes de alimentos como os convencionais, transgênicos, ecológicos e outros. Assim, constituiu-se objetivo deste artigo, identificar os fatores relevantes na decisão de consumo de alimentos orgânicos. Para tanto foi utilizada uma amostra, composta de 138 consumidores do Estado de São Paulo. O tratamento dos dados foi realizado através de técnicas da estatística descritiva e multivariada, a análise fatorial. Os resultados evidenciaram cinco principais Fatores de Competitividade, cujas variáveis foram agrupadas conforme segue: (a) o primeiro fator diz respeito aos aspectos legais e de certificação; (b) o segundo fator está relacionado à ética da empresa; (c) o terceiro fator é relativo ao preço e à comercialização; (d) o quarto fator se ocupa das influências políticas e por último; (e) o quinto fator, diz respeito às questões ambientais. Outro resultado importante evidenciado foi a melhora do meio ambiente, como o aspecto que mais influencia os consumidores na tomada de decisão para a compra de produtos orgânicos. Como recomendação final, este estudo sugere ajustar a demanda do produto orgânico, que se mostrou favorável a um consumidor exigente, tornando-o assim, uma realidade viável e acessível a um mercado crescente.
Palavras-Chave: agronegócios – orgânicos – competitividade

Introdução

Nos últimos anos a biotecnologia vem revolucionando a produção de alimentos. Na agricultura surgem uma infinidade de processos produtivos, inovadores, aplicados ao cultivo do campo com finalidades sociais e econômicas. A agricultura convencional, a transgênica, a natural, a orgânica, a biodinâmica, a sustentável, a ecológica, a biológica são alguns nomes utilizados, e cada um deles procura caracterizar a sua produção com um conjunto de conceitos próprios, que incluem desde fundamentos filosóficos, preceitos religiosos ou esotéricos e até a definição do tipo de insumo utilizado, num esforço de diferenciação de processos de produção e de produtos com o objetivo de aumentar a parcela de mercado ou criar novos nichos (ORMOND et al, 2002).
Nas prateleiras dos supermercados os alimentos provenientes da agricultura orgânica são cada vez mais comuns. As condições básicas que definem os produtos orgânicos são as ausências de agrotóxicos e fertilizantes químicos para o seu cultivo. É um processo produtivo, que utiliza a tecnologia de produção dos primórdios da agricultura. O produtor deve respeitar normas em todas as etapas de produção, desde a preparação do solo à embalagem do alimento, sempre preservando os recursos naturais (MIRANDA, 2001). Os novos canais de distribuição e comercialização possibilitaram que os produtos orgânicos alcançassem maior número de consumidores, tornando a demanda mais regular e, consequentemente, mais raro o contato direto entre produtores e consumidores, necessitando portanto, de um terceiro elemento que assegure ao distribuidor e ao consumidor a veracidade das informações sobre o processo de produção, de forma a restabelecer a confiança no bem adquirido. Isso se dá pela missão de um certificado por instituições habilitadas, atestando a adequação dos procedimentos do produtor, e pela presença de um selo de garantia na embalagem do produto. À medida que os produtores passaram a ter interesse no mercado exportador, surgiu também a necessidade de certificação dos produtos por instituições de reconhecimento internacional.
Para que isso fosse possível, a produção, o armazenamento e o transporte teriam que obedecer aos padrões internacionais de controle. A fim de regulamentar o setor, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento estabeleceu normas disciplinares para produção, tipificação, processamento, envase, distribuição, identificação e certificação da qualidade dos produtos orgânicos, sejam eles de origem animal ou vegetal em acordo com os praticados na maioria dos países da Europa, nos Estados Unidos e no Japão.
Apesar de todo este aparato legal, o processo de comercialização é complexo para os produtores, dada a falta de conhecimentos administrativos-financeiros e de treinamento gerencial, dificuldade de organização dos produtores em associações ou cooperativas e falta de um planejamento de produção adequado para oferecer produtos de acordo com a necessidade do mercado.
Assim como na agricultura convencional, os pequenos e médios produtores devem se unir para obter maior força de comercialização junto aos supermercados e cadeias de distribuição. O mercado é instável em função do abastecimento variável, e o processo de comercialização direto requer grande variedade de produtos. A partir do conhecimento da necessidade dos consumidores, deve-se ter um planejamento de produção para se conseguir fazer a entrega na forma desejável.
Este mercado está em formação e a tendência é favorável a partir da conscientização dos consumidores sobre a qualidade diferenciada, associada à capacidade de entrega regular dos produtos em maior escala e à viabilidade de preço. Segundo informações de DAROLT (2002), o agricultor ainda é o mais prejudicado em termos de retorno econômico; atualmente, do valor total (100%) pago pelo consumidor, em média 30% são destinados ao agricultor, 33% são para cobrir os custos dos intermediários e 37% corresponde à margem dos supermercados.
Alguns pesquisadores (DAROLT et al., 2002) consideram que o preço dos produtos orgânicos tem sido um dos entraves à expansão do mercado. Com preços mais altos do que o produto convencional há uma variação de 20 a 100%, dependendo do produto e do ponto de venda; as explicações se dão em função da baixa escala de produção, gerando maior custo por unidade produzida, principalmente se o produtor estiver na fase de conversão da propriedade, pois há o tempo de recuperação de solo, do meio ambiente e o tempo de aprendizado do manejo orgânico. A produção orgânica envolve maiores riscos, principalmente nos primeiros ciclos produtivos, caso haja alguma interferência de pragas ou doenças, pode não ser possível recuperar a produção pelo fato de nenhum defensivo não orgânico poder ser utilizado. O processo de comercialização é complexo por envolver processos de limpeza, classificação, embalagens informativas e distribuição pulverizada para atingir os consumidores que ainda estão se formando no assunto, além de driblar os grandes atacadistas cujo critério é baseado em quantidade e preço. Todas estas ações de diferenciação encarecem o produto, além das altas margens praticadas pelos pontos de venda, que são maiores do que as margens de lucro aplicadas ao produto convencional, pelo motivo do supermercado ou loja estarem oferecendo um produto diferenciado.
Além dos fatores acima mencionados, o agricultor de produtos orgânicos ainda possui os custos de certificação, análises, auditorias e maior envolvimento em formação técnica e pesquisa experimental. Um ponto bastante crítico e que acaba acarretando conseqüências para a formação do preço do produto final é a ausência de incentivos e linhas de crédito subsidiadas pelo governo brasileiro, principalmente para pequenos e médios agricultores que são os que mais necessitam de apoio para se estabelecer no mercado.
Nesse contexto, esta pesquisa objetivou identificar os principais fatores de decisão (ou de competitividade) para o consumo de produtos orgânicos, do ponto de vista dos consumidores.
Entendeu-se como aspectos de decisão, neste estudo, os seguintes fatores: ético, relativo à marca ou imagem da empresa; legal, relativo à identificação da origem do produto segundo normas de rotulagem; político, relativo à obtenção de benefícios para o meio ambiente e o homem e; de competitividade de mercado, relativo ao preço praticado pelo mercado.
Embora tenham assumido um papel importante na mídia em geral, sobretudo por tratar-se de antítese aos alimentos geneticamente modificados, os produtos originados de produção orgânica ainda representam uma parte muito pequena do mercado de alimentos. As informações sobre sua participação no mercado mundial são difusas e muitas vezes imprecisas. A produção orgânica no Brasil, estimada pelo Centro Internacional de Comércio (ITC) e pelo Instituto Biodinâmico (IBD) em 1998, foram de US$ 90 milhões e de US$ 150 milhões, respectivamente.
Dados da Associação de Agricultura Orgânica (AAO) mostram que o mercado consumidor de produtos orgânicos cresce 30% a cada ano (MIRANDA, 2001). Segundo dados elaborados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) existem cerca de 7.063 produtores certificados ou em processo de certificação para uma área ocupada de 269.718 hectares. O Brasil já exporta produtos orgânicos como soja, café, açúcar, castanha de caju, suco concentrado de laranja, óleo de palma e, em volumes menores, produtos como a manga, melão, uva, derivados de banana e fécula de mandioca.

Referencial teórico


Estratégias e responsabilidade social


A competitividade de uma empresa é determinada por vários fatores, cujos resultados são conseqüências da interação e gerenciamento dos mesmos. Segundo POSSAS et al (1995), o conceito de competitividade das empresas depende de três fatores fundamentais, que são: gerenciamento estratégico, estrutura dos mercados de atuação e aspectos sistêmicos ou institucionais, tais como, barreiras tarifárias e não tarifárias, infra-estrutura e macroeconomia. rgumentam, ainda, os citados autores, que a concorrência e a competitividade não surgem espontaneamente mas dependem, de forma crucial, da adequação das condições ambientais e de medidas políticas, em outras palavras, devem ser construídas, seja por iniciativa da política econômica e industrial com apoio da legislação, seja pelas estratégias das próprias empresas.
Aspectos estratégicos das empresas são fundamentados por conceitos do campo da administração desenvolvidos por MINTZBERG e QUINN (1996), CERTO e PETERS (1993) e estruturas de mercados e competitividade relativa da indústria (PORTER, 1985 e 1998).
Produtos como alimentos que envolvem aspectos psicológicos e culturais na decisão de consumo são muito delicados e as empresas hoje são muito cautelosas quanto à imagem da marca de seus produtos ou da organização. As estratégias de introdução de novos produtos em países emergentes devem, além disso, considerar a limitação de renda dos consumidores, de forma que as estratégias de preço e de custo, tornem o produto acessível à população. A segmentação da população brasileira, por outro lado, apresenta características peculiares, devido à elevada desigualdade na distribuição de renda, tornando-se mais difícil para as empresas encontrarem uma combinação adequada de diferenciação e preço de produto que satisfaça as exigências e necessidades dos consumidores. A importância crescente com relação à saúde e preservação do meio ambiente coloca em discussão, através da participação de diversos representantes da sociedade, a garantia da qualidade dos alimentos, sejam eles orgânicos ou não, e envolve as indústrias de alimentos e seu posicionamento estratégico quanto a responsabilidade social.
A responsabilidade social cada vez mais está inserida, seja convencionalmente ou não, nos processos de decisões das empresas. Esta dimensão tornou-se estratégica, com a globalização e o fácil acesso às informações propiciado pela tecnologia de informações. Sob este aspecto, as empresas buscam equilibrar quatro fatores básicos envolvidos no processo de assumir uma posição responsável frente à sociedade: a ética, as pressões legais, as pressões políticas e a competitividade (CERTO e PETERS, 1993). Estes quatro fatores influenciam as empresas na condução de suas estratégias, visto que apesar da lógica inerente do mercado na busca de crescimento e lucro, as empresas dependem de pessoas, que estão assimilando as argumentações e informações do ambiente externo.
Resumidamente têm-se: (1) Fatores Éticos. O escopo da ética de negócios é definido por NASH (1993), como o estudo da forma pela qual normas morais e pessoais se aplicam às atividades e aos objetivos da empresa comercial. Não se trata de um padrão moral separado, mas do estudo de como o contexto dos negócios cria problemas próprios e exclusivos à pessoa que atua como um gerente desse sistema. SROURS (1998), com relação à ética nos negócios argumenta que toda empresa capitalista opera em um ambiente hostil, no qual os stakeholders defendem interesses próprios, e atuam num horizonte de longo prazo. Portanto, as empresas têm uma imagem ou uma marca a resguardar, que se trata quase de um patrimônio. A mera publicidade não é condição suficiente para resguardar esta imagem, porém, a conduta ao longo do tempo da empresa, seu posicionamento e capacidade de respostas, cada vez que é pressionada ou demandada pela sociedade; (2) Fatores Legais. Com relação aos aspectos legais, os órgãos governamentais buscam a regulamentação e fiscalização dos produtos de forma a assegurar as normas estabelecidas. As normas legais são indispensáveis para ordenar e tornar transparentes as regras de mercado, assim como possibilitar a fiscalização dos produtos; (3) Fatores Políticos. Aspectos políticos referem-se a pressões de grupos organizados de consumidores que influenciam na aquisição de um produto e na escolha de uma marca. A influência destes grupos é enfatizada em teorias de comportamento do consumidor e suas relações com a sociedade são analisadas em KARSAKLIAN (1999) e; (4) Fatores de Competitividade de Mercado. Tradicionalmente os economistas relacionam a competitividade com preço, produtividade e custos unitários. Do ponto de vista do consumidor, o preço de um produto é avaliado pela utilidade que o produto comprado lhe oferece e o custo de oportunidade, ou seja, o custo de deixar de comprar outros bens ou serviços. De acordo com PORTER (1985) o preço de um produto é reflexo do valor que o consumidor assume para determinado produto. Os alimentos, quando básicos, apresentam pouca elasticidade à renda enquanto que alimentos com maior valor agregado, sejam via processamentos ou agregação de serviços de conveniências, são mais elásticos à renda. Se for considerada a participação dos alimentos na renda total da família, para faixas de rendas superiores, o preço é menos relevante do que para as famílias de rendas inferiores.
O preço passa a ser fator de competição quando os produtos de diferentes marcas e empresas apresentam qualidades semelhantes. Em um mercado altamente competitivo, no qual os produtos atingiram grau de qualidade semelhante, os fatores não preço como design, conveniência, embalagem, apresentação, imagem da marca, segurança alimentar e outros passam a incorporar utilidades que pesarão na decisão de compra.
Deve-se considerar que a imagem da marca do produto ou da empresa está intimamente relacionada com uma posição de responsabilidade social da empresa, ao longo do tempo, relativamente ao consumidor e à comunidade. Quanto maior o porte da empresa, mais a sociedade cobra por uma atitude de responsabilidade social. Dessa forma, a competitividade está intrinsecamente relacionada com a ética da empresa, com sua resposta às pressões políticas e sua prontidão em acatar aspectos legais. 

A Cadeia Produtiva de Alimentos Orgânicos 


Os produtos orgânicos in natura como frutas, legumes e hortaliças, caracterizam-se como um mercado tipo commodity, onde não há influência da marca do produto. O que atrai o consumidor é um conjunto de aparência e preço. A imagem está mais relacionada ao varejista do que ao produtor, pois é o primeiro que garante a qualidade e através dela conquista-se a confiança dos consumidores. Os agricultores normalmente não aparecem, mas este panorama tem mudado nos últimos tempos em função da criação de marcas de produtos deste tipo com acréscimo de conveniências oferecidas ao consumidor final. Dentre os valores agregados a esta cadeia de produtos pode-se destacar produtos limpos e/ou cortados e prontos para o consumo; há também produtos congelados prontos para o consumo e com longas datas de validade. Para isto há também preços diferenciados, entretanto, ambas situações atendem a necessidade dos consumidores da vida moderna, onde a praticidade e economia de tempo são fatores importantes.
Os produtos orgânicos também agregam valor pelo aspecto ecológico que confere ao consumidor e ao meio ambiente, além da possibilidade de oferecer também aspectos de limpeza, sem contaminação química. A logística de produtos perecíveis deste tipo, cuja distribuição e consumo devem ser realizadas diariamente, é um fator crucial ao produtor, pois este não tem a possibilidade de armazenar produtos e entregá-los para o ponto de venda quando houver demanda ou quando for mais vantajoso para si. Sendo assim deve haver uma integração e um planejamento bastante eficientes para a partir do conhecimento da demanda, planejar e produzir para ter a colheita no tempo adequado. No caso de produtos orgânicos a situação é ainda mais delicada em função da produtividade baixa e, consequentemente, no caso de perdas, o prejuízo pode ser ainda maior.
A cadeia produtiva de produtos orgânicos pouco se diferencia da cadeia de produtos convencionais, a não ser pela presença da certificação e, o mais interessante, pela inexistência da figura do atacadista ou do intermediário entre a produção e o elo seguinte (ORMOND et al, 2002). Um esquema da cadeia produtiva de orgânicos é mostrado na Figura 1.
Figura 1: Cadeia Produtiva dos Orgânicos. Fonte: Adaptado de ORMOND et al (2002)
TABELA
Na cadeia produtiva dos produtos orgânicos, os elos são definidos como a seguir: (1) Produção de Insumos: consiste na produção de mudas, sementes, adubos, fertilizantes, controladores de pragas e doenças, defensivos, embalagens e outros itens necessários ao manejo orgânico de uma área ou propriedade; (2) Produção Agropecuária: proprietários rurais e empresas agropecuárias compõe esse segmento, com importante diferenciação; as empresas, em geral, dedicam-se à produção de commodities e são verticalizadas, atuando também no processamento secundário; (3) Processamento Primário: trata-se de empresas, cooperativas ou associações de produtores que atuam na coleta de produção regional e fazem seleção, higienização, padronização e envase de produtos a serem consumidos in natura e são responsáveis pelo transporte e comercialização da produção. Podem atuar tanto no mercado interno como na exportação. Em geral, possuem marca própria, e algumas administram stands em lojas de supermercados. Uma parte de suas vendas é feita diretamente ao consumidor através de entregas domiciliares, mas também vendem a indústrias embora não seja muito usual e não é o foco deste trabalho; (4) Processamento Secundário: uma gama variada de indústrias compõe esse segmento, desde tradicionais indústrias de alimentos a pequenas indústrias, algumas quase artesanais; (5) Distribuição: o agente, aqui, é responsável pela comercialização dos produtos que foram submetidos a processamento primário e/ou secundário, envolvendo lojas de produtos naturais, lojas especializadas em hortifrutis e supermercados. Os agentes deste elo detêm boa parte do conhecimento das preferências do consumidor e da quantidade demandada pelo mercado; (6) Consumo: estão incluídos os consumidores finais e institucionais como os restaurantes, lanchonetes, empresas e outros; (7) Certificação: as instituições certificadoras têm importante papel nessa cadeia produtiva, uma vez que sua credibilidade é determinante da confiança que distribuidores e consumidores devotam ao produto oferecido.
Os produtos orgânicos in natura, tem certas particularidades nos elos de comercialização, distribuição e consumo, se comparados aos elos equivalentes da cadeia produtiva de produtos convencionais. As diferenças percebidas estão na ausência de atacadistas em função da pequena escala de produção e da necessidade de preparo diferenciado até chegar ao consumidor. As funções do atacadista estão sendo realizadas pelo próprio produtor/agricultor ou por associações e cooperativas. Se o produto orgânico for colocado na mesma prateleira que um produto convencional, sem embalagem e sem separação, corre-se o risco de contaminação e todo o processo produtivo cobrto por um rigor ecológico, será prejudicado. Outra função da embalagem adequada é a de identificar a origem do produto e garantir que este possui as certificações necessárias e; (8) Recursos Tecnológicos: o uso de recursos tecnológicos nos supermercados como código de barras para identificação do produto, sistemas automatizados de movimentação de materiais, de administração e controle, obriga este elo da cadeia se adequar às exigências do distribuidor. Após esta primeira etapa deve-se então providenciar embalagem para carregamento em caixas de plástico ou madeira, transporte e distribuição dos produtos. O fato do mercado consumidor destes produtos estar em formação, faz com que a distribuição seja mais pulverizada do que o normal, acarretando em maiores custos de entrega.
A função do atacadista foi substituída pelo produtor agrícola ou pelo processamento primário. Na tentativa de criar escala de comercialização para um produto que tem pouco volume, incentivou-se produtores a desempenhar papel semelhante ao das indústrias integradoras de outras cadeias. O fato é marcante na área de hortifrutigranjeiros destinados ao mercado interno, e as empresas de processamento primário, os quais embora não assumam relações contratuais com os produtores, mantém acordos informais que se assemelham a contratos tácitos, que incluem fornecimento de insumos e assistência técnica (ORMOND et al, 2002).
Vale lembrar que as novas atribuições ao produtor orgânico são mais um fator de diferenciação e consequentemente de encarecimento dos produtos. A geração do alimento orgânico inicia-se no setor agrícola, com a utilização de sementes apropriadas. A partir deste elo da cadeia haverá a necessidade de certificados de origem de modo a permitir a rastreabilidade do produto que servirá de insumo para diversos alimentos processados. A indústria de alimentos, por sua vez, necessitará desenvolver critérios de seletividade relativo a fornecedores de forma a garantir a origem e as especificações de composição do produto.
O varejo representado pelas redes de grandes supermercados, com as crescentes exigências do mercado consumidor, tenderá a impor maior uso de técnicas de gestão da produção em todos os elos da cadeia de suprimentos. Essas técnicas visam, além da redução da probabilidade de que eventos aleatórios causem situações fora de controle do administrador, obter os melhores resultados com os recursos disponíveis. Entre alguns dos resultados esperados, estão a regularidade do abastecimento, aumento na velocidade de atendimento aos pedidos, redução de custos, sincronia entre atividades dos diferentes elos da cadeia e dentro do próprio segmento produtivo. Espera-se, sobretudo, atendimento aos anseios do consumidor e ganhos equilibrados entre os agentes da cadeia de suprimentos. 

Metodologia da pesquisa:objetivos, amostra, coleta e tratamento dos dados 

Objetivos 

O objetivo principal da pesquisa, objeto deste artigo, foi verificar se os Fatores de Competitividade citados pelos principais autores que atuam neste campo de conhecimento coincidem com os Fatores de Competitividade dos consumidores de produtos orgânicos.
Como objetivos específicos, procurou-se:
a) Identificar o aspecto (ou variável) mais importante e o menos importante na decisão de compra de produtos orgânicos pelos consumidores; b) Identificar o perfil dos respondentes em relação aos produtos orgânicos e;
c) Identificar o grau de conhecimento dos respondentes em relação aos produtos orgânicos.
O tipo de pesquisa foi o exploratório, tendo-se adotado uma amostra não probabilística. Por isso as inferências extraídas da amostra devem ser ressalvadas, em função das limitações deste tipo de abordagem (VERGARA, 1998).

Amostra e coleta de dados

A amostra foi constituída de 138 respondentes, moradores da região metropolitana da cidade de São Paulo e algumas cidades do interior do Estado de São Paulo, cuja coleta dos dados foram realizadas no primeiro semestre de 2002.
O instrumento utilizado para a coleta dos dados foi um questionário composto por questões fechadas, constituído de três blocos: (a) o primeiro bloco, referiu-se ao perfil dos respondentes; (b) o segundo bloco, referiu-se ao grau de conhecimento dos respondentes quanto a questão dos produtos orgânicos e; (c) o terceiro bloco, teve como objetivo levantar qual a influência que o respondente atribuía a cada um dos aspectos apresentados para a sua decisão de consumir produtos orgânicos. A definição dos aspectos ou variáveis da competitividade foi feita com base nos conceitos dos principais Fatores de Competitividade citados pelos diversos autores mencionados no Referencial Teórico. Assim, foram formuladas 17 assertivas, classificadas nos seus respectivos Fatores e Variáveis (aspectos), conforme mostrado na Tabela 1.
Tabela 1: Fatores e variáveis para uma estratégia de responsabilidade social
TABELA
Essas assertivas foram colocadas em uma escala ordinal, tipo Likert, composta de cinco categorias de respostas da seguinte forma:
(1) A variável apresentada não influência minha decisão de consumir produtos orgânicos;
(2) A variável apresentada pouco influência minha decisão de consumir produtos orgânicos;
(3) A variável apresentada influência de forma moderada minha decisão de consumir produtos orgânicos; 
(4) A variável apresentada influência de forma acentuada minha decisão de consumir produtos orgânicos; 
(5) A variável apresentada influência de forma muito acentuada minha decisão de consumir produtos orgânicos. 
A escolha desta escala foi devido a sua capacidade em verificar até que ponto (ou grau de influência) o consumidor ao fazer a sua escolha, identificava a competitividade do produto e, portanto, tomava a sua decisão de compra voltada para os alimentos orgânicos.

Tratamento dos dados

O primeiro e o segundo bloco foram tratados pela estatística descritiva por meio de freqüências e percentagens das respostas obtidas. Para o terceiro bloco, além da estatística descritiva utilizou-se da análise fatorial para verificar se os fatores ou componentes inicialmente pesquisados nas referências bibliográficas eram coerentes com os componentes principais obtidos na pesquisa de campo. Assim, as variáveis estudadas foram consideradas como discretas, categóricas e não-paramétricas. Para o tratamento dos dados utilizou-se o pacote estatístico “SPSSÒ” para realizar as análises estatísticas.

Resultados

A amostra, constituída de 138 questionários ou 138 respondentes, apresentou algumas características consideradas importantes para a análise dos resultados.

Estatística descritiva

a) Com relação ao perfil dos respondentes os resultados obtidos foram: (1) 44,9% dos respondentes eram do sexo feminino e 55,1% do sexo masculino; (2) 27,5% tinham idade até 30 anos, 55,1% entre 31 e 50 anos e 17,4% acima de 51 anos; (3) 65,2% tinham curso superior e 32,8% curso primário e secundário; (4) 65,4% eram usuários da internet e 34,6% não o eram; (5) 39,9% utilizavam-se da televisão como principal meio para se manter informado, seguido de 23,2% do jornal, 12,3% de revista e 24,6% outros meios como rádio e internet; (6) 97,8% consideravam importante a rotulagem de produtos para identificar sua origem e 2,2% não o consideravam; (7) a origem dos produtos foi considerada pelos respondentes como o item mais relevante para a decisão de compras de produtos orgânicos com 55,7% das respostas. O preço, o rótulo e marca apareceram em segundo, terceiro e quarto com 36,6%, 26,7% e 26,4% das respostas, respectivamente. A qualidade (2,9%), quantidade (0,7%) e sabor (0,7%) também foram citados, porém, em menor freqüência.
b) Com relação ao grau de conhecimento dos consumidores em relação aos produtos orgânicos os resultados foram: (1) 98,5% já tinham ouvido falar em produtos orgânicos, enquanto somente 1,5% nunca tinham ouvido falar em agricultura orgânica; (2) 88,4% acreditavam que ingerir produtos orgânicos pode trazer benefícios à saúde, 1,4% não acreditavam e 10,1% não tinham opinião; (3) 89,9% achavam que agricultura orgânica deveria ser discutida com a comunidade, 2,9% achavam que não precisava ser discutida e 7,2% não tinham opinião; (4) 47,1% acreditavam que a agricultura orgânica não tornava os alimentos mais baratos, 38,4% acreditam que sim e 14,5% não tinham opinião; (5) 99,3% acreditavam que deveria haver mais debate sobre produtos orgânicos e 0,7% não; (6) 89,8% acreditavam que agricultura orgânica influenciava no equilíbrio do meio ambiente, 5,8% não acreditavam e 4,3% não tinham opinião; (7) 94,2% acreditavam que deveria haver algum tipo de certificação oficial para os produtos orgânicos, 2,2% achavam que não e 2,9% achavam indiferente; (8) quanto à preferência de consumo, em primeiro lugar apareceu o produto orgânico, seguido do convencional; (9) quanto ao consumo de produtos orgânicos, os respondentes preferem fazê-lo na forma in natura, seguido do produto orgânico industrializado; (10) quanto ao processo de aprovação dos produtos orgânicos, evidenciou que deveria ficar com os pesquisadores públicos em primeiro lugar seguido pelo governo e as empresas financiadoras de pesquisa em segundo e terceiro lugar respectivamente. Outros responsáveis pela certificação também poderiam ser as associações de classe e as ONGs; (11) quanto ao meio de comunicação que o respondente mais ouviu falar sobre alimentos orgânicos, foi apontada a televisão em primeiro lugar, seguido do jornal, revista e rádio; (12) quanto a opinião sobre quem seriam os maiores beneficiados com os alimentos orgânicos, os respondentes julgaram os próprios consumidores em primeiro, os produtores rurais em segundo, seguido de empresas produtoras de sementes e fabricantes de alimentos. A comunidade, pesquisadores e o meio ambiente também foram apontados como beneficiários.
c) Com relação à influência que cada variável, contribuiu para a decisão de consumir produtos orgânicos, os resultados são apresentados na Tabela 2.
Tabela 2: Freqüência das respostas
TABELA
Observa-se na Tabela 2 que as variáveis: melhora o meio ambiente (1) e substitui o uso de agrotóxico (2) foram as que obtiveram a maior porcentagem na categoria de resposta que “influencia de forma muito acentuada”. Este resultado evidencia as preocupações com o meio ambiente e uma qualidade de vida saudável.

Análise fatorial para as diversas variáveis


Efetuada a análise dos resultados em termos descritivos, objetivou-se, mediante a técnica de análise fatorial, substituir o conjunto inicial de variáveis por outro de menor número denominada de fatores, de modo a identificar as dimensões latentes nessas variáveis, visando uma interpretação mais compreensível segundo direções comuns (AAKER et al, 2001). Utilizou-se o critério varimax, que maximiza a variância entre os fatores, para a rotação das matrizes fatoriais. Assim, do exposto, têm-se na Tabela 3 os resultados da aplicação da análise fatorial.
Tabela 3: Fator de carga (com rotação – Varimax with Kaizer Normalization)
TABELA
Kaiser-Meyer-Olkin Measure of Sampling Adequacy (KMO): 0,716

Foram identificados cinco fatores significativos, referentes aos valores de eigenvalues maiores do que 1, representativos de 60% da variância do conjunto de dados originais, identificados na tabela de cargas fatoriais da matriz rodada. Constatou-se que o primeiro fator englobou seis variáveis originais, as de números 7, 8, 9, 10, 11 e 14. Mediante análise dos resultados, evidenciou-se que elas estavam relacionadas com os aspectos legais. O segundo fator englobou as variáveis originais de números 3, 4, 5 e 6. O terceiro fator foi evidenciado por três variáveis originais, as de números 15, 16 e 17. O quarto fator englobou duas variáveis, as de números 12 e 13. O quinto fator englobou dois fatores, as de números 1 e 2. O ajuste dos dados às premissas da análise fatorial dada por um valor de Measure of Sampling Adequacy (MSA) foi de 0,716, indicando que os dados tem uma boa adequação para a análise fatorial (HAIR et al, 1998).
Na Tabela 4, estão os resultados da análise fatorial efetuada para esse grupo de variáveis, destacando as variáveis que caracterizam os fatores extraídos.
Tabela 4: Fatores determinantes da competitividade da empresa
TABELA
Observa-se que para os alimentos orgânicos, o fator principal foi o relativo às questões Legais e Certificação tendo um peso muito significativo para a decisão de consumo. Observa-se que o fator legal, tem adicionado variáveis de certificação, conforme pode ser constatada pela Tabela 3. Esta junção feita pela amostra de consumidores, pode ser explicada pelo fato dos alimentos in natura serem commodities, cuja diferenciação deve ser dada pela certificação que é a garantia que o consumidor tem na escolha de um produto de qualidade superior aos produtos convencionais. No segundo fator, denominado de Ética da Empresa, a consolidação da marca pelo comportamento correto ao longo do tempo, poderia estar agrupada com o quinto fator, denominado Questões Ambientais, conforme é sugerido na Tabela 3. No entanto, para a amostra pesquisada, estes dois fatores, Ética da Empresa e Questões Ambientais são percebidos separadamente. Isto pode ser explicado pelo fato de que as questões ambientais são mais visíveis para os consumidores, evidenciando ainda, que são diferenciadas das questões do gerenciamento de marca e imagem das empresas. Observa-se na Tabela 1 (ou 2???), que o fator Questões Ambientais, já havia sido evidenciado, com a utilização do tratamento dos dados dada pela freqüência das respostas obtidas. No terceiro fator, denominado de Preço e Comercialização, agrupou-se também os variáveis relativas à política econômica e comercialização, deixando claro que as mesmas realmente tem influência no fator Preço. No quarto fator, denominado de Influências Políticas, as variáveis, atuação da mídia e das ONGs, foram agrupadas no mesmo fator, evidenciando que os consumidores identificam que são através destes meios ou organizações que é possível exercer pressões para o cumprimento de normas legais e certificação.


Considerações finais e prosseguimento do estudo

Com relação ao objetivo principal do estudo, a amostra de consumidores de produtos orgânicos mostrou que os quatro fatores primeiramente considerados para um gerenciamento de responsabilidade social, segundo o Referencial Teórico, não são suficientes. Necessitam ser complementados por mais um fator, “Questões Ambientais”, evidenciando de certa forma, a conscientização da população para um problema muito discutido atualmente, as questões ambientais e ecológicas.
Com relação aos objetivos específicos:
a) Dentre as variáveis identificadas para uma competitividade com responsabilidade social, a mais importante, isto é, o que mais influenciava a decisão de compra de alimentos orgânicos, é a melhora do meio ambiente pela substituição do uso de agrotóxicos principalmente; e a que menos influenciava, ou a menos importante para a sua decisão de compra, é o fato da agricultura ser uma ilusão de uma minoria e o uso da agricultura orgânica como política de governo. Estas duas variáveis , a mais importante e a menos importante, evidenciaram que os respondentes acreditavam na viabilidade do manejo orgânico como maneira de ter acesso a produtos mais saudáveis, independente de política de governo ou interesse de uma classe de agricultores.
b) Quanto ao perfil do consumidor para os produtos alimentícios, orgânicos, evidenciou-se o fato que tanto mulheres como homens se preocupavam com os alimentos que consomem, tarefa não mais atribuída somente às donas de casa. Grande parte dos respondentes possuía curso superior e eram usuários da internet, caracterizando, que os consumidores de alimentos orgânicos tinham um alto grau de instrução. A televisão se mostrou como o meio de comunicação que mais atinge os consumidores; também sendo o meio de preferência para discussão de assuntos de interesse, como é o caso da alimentação. Provavelmente dado o grau de instrução dos respondentes, quase a totalidade dos respondentes valorizavam a informação e o direito de consumidor, requerendo uma rotulagem adequada dos produtos. Resultou-se em maior importância atribuída à origem dos produtos mais do que o preço, embora este seja um fator de relevância considerada. A baixa importância dada à marca dos produtos mostrou que a fidelidade do consumidor é alcançada se os outros pontos forem atendidos, e não somente pelo nome ou campanhas de mercado agressivas. Quanto ao grau de conhecimento às questões dos produtos orgânicos, pode-se perceber que a grande maioria dos respondentes considerou este tipo de manejo agrícola um benefício ao homem e, principalmente, ao meio ambiente; apresentando um desejo de mais discussão sobre o tema e a participação destes produtos na vida dos consumidores. A preferência de consumo foi primeiramente para produtos orgânicos, seguido dos convencionais; mas o mais interessante foi a freqüência zero para a preferência de alimentos transgênicos. Percebeu-se que as recentes denúncias e problemas levantados com os organismos geneticamente modificados (OGMs), tenderam a valorizar ainda mais a volta às origens, por meio de uma vida mais saudável e natural.
Mesmo que o consumidor não conheça exatamente as diferenças dos processos de produção, pareceu haver uma forte inclinação para o que é alimento natural, preferência apresentada dentre as formas de consumo dos produtos orgânicos. A forma in natura é mais bem vista do que a industrializada. A preferência apresentada pelos consumidores para que a aprovação dos produtos orgânicos seja feita por pesquisadores e órgãos públicos, mostrou o desejo de imparcialidade e não manipulação por segmentos de interesse na avaliação dos produtos.
Conclui-se, então, que o grande desafio do setor produtivo é ajustar a demanda de mercado, cujos consumidores se mostraram favoráveis e crescentes, tornando o produto orgânico uma realidade viável de mercado. O alcance de larga escala produtiva com preço competitivo é um fator crítico para o sucesso deste segmento; acrescido dos desafios de comercialização e distribuição a serem vencidos.
No caso dos produtos orgânicos, a competitividade depende do equilíbrio que cada empresa conseguirá estrategicamente administrar os cinco Fatores de Competitividade identificados pela pesquisa: Legais e certificação, Imagem da empresa, Preço e Competitividade de mercado, Influências políticas e Questões ambientais.
À vista do exposto, sugere-se o prosseguimento desta pesquisa: (1) identificar as principais causas de aumento de custos ou os desperdícios que ocorrem na cadeia produtiva dos produtos orgânicos, para torná-los mais acessíveis às diversas camadas sociais da população e; (2) levantar por região, onde os produtos orgânicos tem maior competitividade e assim considerá-los como benchmark.

Referências


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(Pesquisa com subsídio do MackPesquisa - Instituto Presbiteriano Mackenzie)