O alimento milenar dos índios está no cardápio do futuro. O homem branco cultiva uma nova variedade de mandioca desenvolvida pelo Instituto Agronômico de Campinas.
Nas aldeias da tribo Terena brota da terra a energia dos guerreiros.
"O ano inteiro nós temos mandioca na nossa mesa, nós tendo mandioca nós temos tudo", disse o cacique João da Silva.
A lenda indígena conta a estória de "maní-oca", a casa de maní. Uma indiazinha que nasceu branca e morreu com um ano de idade. Foi enterrada dentro da oca. E da sepultura brotou uma planta que está nas raízes da cultura brasileira. E é base da alimentação dos povos antigos, há pelo menos sete mil anos.
O prato mais tradicional é o bijú.
O alimento milenar dos índios está no cardápio do futuro. O homem branco cultiva uma nova variedade de mandioca desenvolvida pelo Instituto Agronômico de Campinas. No interior paulista brota a raiz vitaminada, com 20 vezes mais betacaroteno.
"A vitamina A participa direto do processo de visão. A falta da vitamina A pode levar a cegueira. Consumindo 100 gramas dessa mandioca, ela já está com 25% da necessidade de vitamina A garantida na sua dieta diária", afirmou o pesquisador do ITAL Paulo Roberto Carvalho.
A mandioca mais saudável pode ser identificada pela cor. A mandioca branca é a consumida principalmente no Norte e no Nordeste. A amarela é comum no sudeste. E a nova variedade dá para perceber que é bem mais amarelada, justamente por causa do betacaroteno.
A base dos pratos indígenas é a farinha de mandioca. E aos 72 anos a dona Alexandrina ainda rala muito.
“O segredo é mandioca todo dia”, contou a cozinheira Alexandrina da Silva.
Alimento importante também para famílias ribeirinhas da Região Norte e o povo do Nordeste, a farinha da nova variedade contem ainda mais vitamina.
A novidade surgiu após 12 anos de pesquisa na área de melhoramento genético. O cruzamento de sementes que dão origem a uma nova planta.
No campo a mandioca mostrou a mesma força do seu Magno, produtor de 80 anos com energia de menino
“Ela é mais produtiva, é mais resistente, está aprovada”, disse Magno.
O povo que trouxe a mandioca para o nosso cardápio conheceu o alimento do futuro. Levamos uma amostra da nova variedade e pedimos para eles cozinharem, pra experimentar.
“Está aprovada. Não é igual a mandioca de índios, mas está aprovada”, destacou o cacique Plácido Sousa Bueno.
Longe das aldeias e do convívio com a natureza. O mal da vida moderna.
"Trânsito congestionado é uma coisa que me irrita muito. Tem que trabalhar tem que tomar conta da casa, o stress ele tem aqueles momentos de pico”, contou a assistente administrativa Maria Célia de Castro.
Stress não tem sexo. Mudanças no trabalho tiraram o sono de Carlos.
“Pelo potencial de stress que eu estava passando e como eu dormia mal a noite, então eu tinha essas sonolências”, afirmou o analista de comércio exterior Carlos César da Silva.
O stress e as noites mal dormidas levaram Célia e Carlos a serem voluntários de uma pesquisa.
Durante um mês eles responderam questionários enquanto tomavam um suco de maracujá concentrado para avaliar os efeitos no organismo.
A polpa foi produzida na Embrapa cerrados em Brasília, onde a ciência melhora o que já é perfeito.
Em uma área de pesquisa está uma das maiores diversidades de maracujá do planeta. E das 150 espécies conhecidas no Brasil, cerca de 40 são cultivadas. Usadas no melhoramento genético. Geram os frutos do futuro, com sabores, cores e aromas desse país tropical.
A busca da diversidade tem o dedo do homem, na polinização das plantas.
“A gente então pegou a parte masculina de um tipo, ou de uma espécie, e a gente tá trazendo então esse pólen, para colocar na estrutura feminina de outro tipo. Muitas delas produzem frutos comestíveis, mas são pequenos, produz pouco, então a gente tem que fazer os cruzamentos para aumentar o tamanho do fruto, pra aumentar a produtividade”, explicou o pesquisador geneticista da Embrapa Fábio Faleiro.
Com esse trabalho os pesquisadores já descobriram 50 maracujás com potencial comercial. Sendo 80% vindos do Cerrado como o maracujá roxo, mais rico em vitamina C. E o maracujá alho, com potencial para indústria de condimentos
"A diferença entre o maracujá sem melhoramento e o maracujá melhorado geneticamente é muito grande”, afirmou a pesquisadora da Embrapa Cerrados Ana Maria Costa.
Nas pesquisas para o combate ao stress e noites em claro: maracujá do sono.
“O maracujá do sono dá sono?”, perguntou o repórter.
“Não. Pelos resultados que agente tem até agora ele não dá sono. Parece que as pessoas dormem melhor durante a noite, e durante o dia elas sentem menos sono”, disse Ana Maria Costa.
“Ele possui substâncias com capacidade antioxidante duas vezes maior que o maracujá azedo comercial”, contou a pesquisadora da Embrapa Cerrados Sonia Celestino.
Os antioxidantes pesquisados são da classe dos polifenóis: flavonóides, antocianinas, substâncias que combatem os radicais livres responsáveis pelo envelhecimento precoce das células.
“Ajuda a preservar a saúde e prevenir doenças, tais como diabetes mielitos, o próprio câncer, doenças cardiovasculares, então o fato ter um potencial antioxidante já torna o maracujá importante para o consumo humano”, ressaltou a pesquisadora da Unicamp Glaucia Pastore.
Agora os pesquisadores vão identificar qual desses antioxidantes reduziu o stress e melhorou o sono dos voluntários da pesquisa.
“Teve um efeito talvez como tranquilizante. Como eu me sentia menos estressado no dia seguinte, isso significa que eu dormi melhor. Eu tive uma qualidade melhor de sono”, lembrou Carlos.
“Eu conseguia dormir com mais tranquilidade e a irritabilidade começou a diminuir”, disse Maria Celia.
A casca da fruta também tem pectina, fibra que ajuda a regular o intestino e dá sensação de saciedade. Para aproveitar todos os benefícios os pesquisadores da Embrapa desenvolveram uma massa que pode servir de matéria prima para a indústria.
O que iria para o lixo foi para uma universidade particular em São Caetano. Foi a base de um sorvete para mulheres na menopausa, flan que ajuda a reduzir o colesterol. E até um queijo mais saudável.
“Esse queijo é muito indicado para pessoas que tenham problemas de colesterol elevado, tenham risco de doenças cardíacas”, destacou a pesquisadora do Instituto Mauá de Tecnologia Eliana Paula Ribeiro.
Nos testes o queijo de maracujá teve sabor de surpresa.
“Me lembra uma ricota, meio seco, gostei do sabor. É feito de maracujá mesmo? Verdade?”, questionou a professora Denise Marques Miguel.
“Me lembra uma ricota, meio seco, gostei do sabor. É feito de maracujá mesmo? Verdade?”, questionou a professora Denise Marques Miguel.
“Não senti sabor de maracujá de jeito nenhum. Tem sabor de queijo minas mesmo”, disse a engenheira química Mariana Maíra Miguel.
A diversidade da natureza também ajudou no melhoramento genético do produto preferido por 10 entre 10 brasileiros. Nos campos do instituto agronômico de campinas, a busca era por uma variedade de feijão mais resistente a doenças e mais produtiva. Mas surgiu também um produto mais saudável.
“Geralmente quando comparado com outras cultivares do mercado ele tem apresentado em torno de 15% a 20% a mais de proteína do que as demais cultivares”, afirmou o
Cruzamento de outras oito variedades que nunca foram comercializadas, o feijão formoso é resultado de nove anos de pesquisa. Apresenta 10 vezes mais isoflavona, um regulador dos hormônios também encontrado na soja.
“Eu posso dizer que seria 8% da isoflavona encontrada na soja. É bastante. Porque o brasileiro tem o costume de consumir todo dia o feijão. Já a soja nem sempre é usual o brasileiro consumir”, afirmou o pesquisador do IAC Alisson Fernando Chiorato.
“O consumo do feijão formoso seria indicado para quem está na fase da menopausa, porque ele atua diminuindo a incidência de perda óssea, e atuaria também como uma reposição hormonal”, explicou a engenheira química do IAC Paula Feliciano Lima.
Estudos também relacionam a isoflavona no combate ao câncer e outras doenças.
“Quanto a pessoa deveria comer de feijão para obter os benefícios?”, perguntou o repórter.
“Nós temos uma receita assim de que seria uma concha durante o almoço e uma concha durante o jantar”, respondeu Alisson.
Essa variedade teve a primeira safra no ano passado e já pode ser encontrada em sete estados. De acordo com os pesquisadores o "formoso" faz bonito na panela e no relógio. Promete cozimento em 20 minutos. Na rotina corrida de dona de casa, Janine fez o teste.
“Eu nunca vi um feijão tão limpo, tão novinho. Só de lavar ele já solta a casca, fica mais inchadinho”, disse a dona de casa Janine Leite Carmo.
No teste mais importante, os filhos Dudu e Guilherme também aprovaram o feijão mais saudável.
“Eu gostei do tempo que ele ficou pronto gostei da consistência dele, o sabor eu sou suspeita porque fui eu que fiz, mas está aprovado”, disse Janine.
“Não sei se foi você ou foi a ciência, mas que está bom está bom”, brincou o repórter.
Tão bom que toda a equipe do Globo Repórter quis experimentar.