As modificações provocadas pelo uso de adubos químicos e agrotóxicos podem causar desequilíbrios na qualidade nutricional dos alimentos e sobre a saúde humana. Por isso, as plantas tratadas com agrotóxico tornam-se desequilibradas, diminuindo a produção de proteínas ou aumentando a degradação dessas substâncias. Como funciona esse processo? Por que a praga e o fungo respeitam uma planta sadia? Qual a relação entre equilíbrio metabólico da planta e resistência ao ataque de pragas e doenças? Uma planta desequilibrada pode influenciar na saúde humana ? Isso é o que pretendemos discutir neste artigo.
Um dos pesquisadores pioneiros neste tipo de estudo foi o francês Francis CHABOUSSOU (1999), que desenvolveu uma teoria, conhecida como a Teoria da Trofobiose. A palavra Trofo quer dizer alimento e Biose quer dizer existência de vida, assim Trofobiose quer dizer que todo e qualquer ser vivo só sobrevive se houver alimento adequado à disposição dele.
Essa teoria mostra que a suscetibilidade da planta ao ataque de pragas e doenças é uma questão de nutrição ou de intoxicação. Ou seja, uma planta bem alimentada e saudável, apresenta uma composição equilibrada, formando uma estrutura compacta que dificilmente será atacada por pragas e doenças. Entretanto, a proliferação e a intensidade do ataque de pragas (insetos, ácaros e nematóides) e doenças (fungos, bactérias e vírus) estão diretamente relacionadas com o estado nutricional das plantas. Assim, a planta fica suscetível ao ataque de pragas e doenças quando tiver na sua seiva, exatamente o alimento que eles precisam. Este alimento é constituído principalmente por aminoácidos e açúcares solúveis (Figura 1).
Quando inibe-se o processo de proteossíntese, que é a formação de proteínas a partir de aminoácidos, acabam predominando no tecido vegetal os aminoácidos e açúcares solúveis. Neste caso, predomina a proteólise, que é a formação de aminoácidos livres a partir da decomposição das proteínas. Vale lembrar que os agrotóxicos e adubos químicos favorecem a proteólise e inibem a proteossíntese. Em outras palavras, tornam as plantas mais suscetíveis às pragas e doenças, como mostra a seqüência da Figura 1. Por outro lado, a adubação orgânica e o manejo ecológico preconizados na agricultura orgânica tendem a favorecer a formação de proteínas completas (proteossíntese), tornando as plantas mais resistentes e nutricionalmente mais equilibradas.
FIGURA 1 – PROCESSOS QUE OCORREM NO INTERIOR DE UMA PLANTA SADIA E DE UMA PLANTA DESEQUILIBRADA (Teoria da Trofobiose)
FIGURAS
DESENHOS: Extraídos de GUAZELLI & SCHIMITZ (1996).
É interessante observar também que quanto maior o teor de açúcar na planta ou no fruto, maior será sua concentração de minerais, e quanto maior a concentração equilibrada de minerais, melhor será a qualidade da proteína. Minerais em desequilíbrio entre si revelam ausência de vitaminas e presença de proteínas pobres, de baixo valor nutritivo. E, assim, como plantas e frutos nesse estado são suscetíveis ao ataque de pragas e doenças, uma vez ingeridos, não irão contribuir para manter a saúde do consumidor.
Saúde: Um Estado de Equilíbrio
Para o consumidor também é necessário ter em mente o princípio do equilíbrio. Desde que abandonou a vida primitiva, o homem vem modificando intensamente o ambiente em que vive, especialmente sua alimentação (Tabela 1), introduzindo desde substâncias tóxicas a alimentos quimicamente estranhos e até mesmo impróprios à sua espécie. Tudo com a finalidade de melhorar o sabor, a aparência e a capacidade de conservação dos alimentos. Segundo PRETTI (2000), foram mudanças realizadas paulatinamente, porém sem a consciência de que tais atitudes poderiam ser nocivas à saúde.
TABELA 1 – PADRÃO DIETÉTICO DO HOMEM PRIMITIVO x HOMEM MODERNO.
Tabela
FONTE: PRETTI (2000)
Por isso, a importância de comer alimentos equilibrados, pois saúde é o resultado de um estado de equilíbrio. Como dizia Hipócrates "que o teu alimento seja o teu remédio e que teu remédio seja o teu alimento".
Referências
CHABOUSSOU, F. Plantas doentes pelo uso de agrotóxicos: a teroria da trofobiose. Trad. Maria José Guazzelli. 2. ed. Porto Alegre: L&PM, 1999. 272 p.
GUAZELLI, M. J. & SCHIMITZ, R. Teoria da Trofobiose. Apostila de agricultura ecológica. Centro de Agricultura Ecológica de Ipê – RS e Fundação Gaia. 1996.
PRETTI, F. Valor nutricêutico das hortaliças. Horticultura brasileira., v. 18, 2000, Suplemento Julho. p. 16-20.